Entre Linhas por Maria Menezes: [RESENHA] O Carteiro E O Poeta

Mário Jiménez era filho de pescador. Morava numa vila de pescadores, mas não gostava de pescar. Apreciava a sua bicicleta e adorava cinema. Era assíduo frequentador do cinema do vilarejo.

Mário conseguiu um emprego de carteiro, cuja única exigência era ter uma bicicleta. Aceitou com alegria, pois na sua região, havia apenas um correspondente: o poeta Pablo Neruda.

O livro narra a amizade do carteiro Mário Jiménez com o poeta Pablo Neruda, e como nasce a admiração pelas poesias e a cumplicidade entre os dois, até a morte de Neruda. Diferente do filme, tem como cenário o refúgio de Pablo Neruda em Ilha Negra, no Chile.

Mário comprou um livro de Neruda e conseguiu um autógrafo do autor. No entanto, a dedicatória foi impessoal. A partir desse dia, o seu objetivo foi fazer amizade com o poeta para obter uma dedicatória mais “quente”. Comprou outro, não teve coragem de pedir novo autógrafo, mas, em compensação, fez algo que não imaginara: leu-o e adorou os poemas.

21/05/2018

A história de O Carteiro e o Poeta é suave como a vida no interior, sem acontecimentos abruptos ou grandes reviravoltas do destino, mas é marcante no sentido de mostrar o quanto uma pessoa pode influenciar a outra e o quanto a amizade e a poesia podem modificar os rumos de uma vida.

Mário Jimenez é um rapaz de dezessete anos que inventa resfriados para não seguir o pai em seu ofício de pescador. O jovem adorava ir à cidade para assistir filmes e ver revistas.

Depois de levar uma bronca do pai por não ter uma ocupação, vê um anuncio de emprego de carteiro, na agência dos correios. A perspectiva de passar o dia pedalando o atraiu, e ele se candidatou ao cargo. O trabalho é muito simples: Entregar as correspondências diárias ao único letrado na Ilha Negra - O poeta Pablo Neruda.

Um carteiro e um poeta que se estabelecem com suas ideias,
metáforas e desejos.

A aproximação entre o carteiro e o poeta, começa tímida, mas, aos poucos se converte em uma grande amizade. Mário comprou um livro de Neruda e conseguiu um autógrafo. No entanto, a dedicatória foi impessoal. A partir desse dia, o seu objetivo foi fazer amizade com o poeta para obter uma dedicatória mais afetiva. Comprou outro, mas não teve coragem de pedir novo autógrafo, em compensação, fez algo que não imaginara: leu-o e adorou os poemas. Os dois acabam trocando considerações sobre a poesia e Mário já se considerando amigo do poeta, pediu alguns conselhos sobre como conquistar o coração da garçonete Beatriz.

O carteiro fazia mais de uma viagem por dia para entregar a volumosa correspondência do escritor. Numa de suas entregas diárias, recebeu do poeta uma aula sobre metáforas. Ele adorou e queria aprender a fazer metáforas! Então, Pablo Neruda sugeriu que ele fosse pelo caminho, olhando o mar e exercitando a sua imaginação. Foi o que Mário fez.

Certa vez, parou na estalagem da ilha que tinha novos donos. Imediatamente apaixonou-se por Beatriz, a filha de Dona Rosa, a proprietária, viúva de González. E, olhando a bela jovem, ensaiou algumas metáforas.

Pensando em Beatriz, Mário passou a decorar os poemas de seu mais novo amigo Pablo Neruda, principalmente as metáforas. Quando encontrava Beatriz, não perdia tempo e desfilava suas metáforas e, assim, tocou o coração da moça. O rapaz seduziu o coração de Beatriz falando para ela as metáforas de Neruda. A mãe da garota, mulher rústica, não aprovou o romance e deixou isso muito claro ao agora poeta plagiário.

O livro dá-nos a conhecer um Mário jovem, cujo ímpeto sexual nos é revelado ao longo de vários episódios com grande carga erótica. A descrição minuciosa de Beatriz González é um bom exemplo do erotismo a que o autor recorre para, posteriormente, caracterizar os encontros do par. Além de Beatriz, o grande poeta chileno está no centro da vida de Mario.

Um dia, ao separar a correspondência, Mário encontrou uma que o intrigou. A remetente era Dona Rosa, viúva González, mãe de Beatriz. Imediatamente, o carteiro foi à casa do poeta. Pediu-lhe que lesse a carta em sua presença. Dona Rosa exigiu de forma taxativa e grosseira que o poeta interferisse para impedir o namoro indesejado.

Neruda recebeu um convite para ser candidato a presidência do Chile. Ele chegou a viajar para a capital, mas desistiu e preferiu apoiar Allende que vence as eleições. Enquanto todos estavam nas ruas e tabernas festejando, Beatriz entregava-se a seu amor. O casal apaixonado, casam-se em seguida, tendo Neruda e sua companheira Matilde. Meses depois do casamento, Pablo Neruda partiu para a França na condição de embaixador do Chile em Paris, nomeado pelo presidente Salvador Allende. Pablo apreciava a amizade entre eles e antes de partir, deixou para Mário uma caixa repleta de obras completas. Com uma efusiva dedicatória!

Com a ausência de seu amigo poeta, Mário entregou-se a sua preguiça habitual porque não tinha mais a quem entregar cartas. E, essa situação incomodava sua sogra e sua esposa. Dona Rosa foi convencida a transformar a estalagem em restaurante para alimentar 20 famílias de trabalhadores que fariam um acampamento de férias nas imediações. Mário, enfim, trabalharia, pois ficou encarregado pela cozinha do restaurante. Após um ano, já possuía economias suficientes para pagar uma passagem de avião para a França onde se encontraria com o poeta.

Pablo Neruda costumava escreveu cartas ao seu amigo na ilha Negra. Numa delas, manifestou sua saudade da pátria e junto com a carta, mandou um gravador com um pediu para o carteiro: Gravar os sons familiares que há muito tempo ele não ouvia. Mário gravou os sons do mar, dos animais, do sino da casa do poeta.

O carteiro envia a fita ao poeta. O filho de Mário se chamava Pablo Neftalí e era afilhado do poeta. A criança era muito levada e seu pai comprou uma motocicleta para facilitar as constantes visitas ao médico para curar as contusões do menino. O tempo passou e Pablo voltou ao Chile, mas estava muito doente.

Casa de Pablo Neruda, em Ilha Negra - Chile

Devido a grave crise política, o poeta ficou isolado em sua casa na ilha, mas Mário conseguiu entrar na casa, pois conhecia um caminho secreto pelos penhascos. Ali, despediram-se comovidos. O fim do poeta estava próximo. Pablo Neruda morre em Setembro de 1973, na Clínica Santa Maria, em Santigao. Após a morte de seu amigo, Mário foi preso e seu poema "Retrato a lápis de Pablo Neftalí Jimenez Gonçalves" venceu o concurso, tornando-o famoso em todo o país.

O LIVRO É SEMI-FICTÍCIO:

Pablo Neruda - Pseudônimo. O nome nativo do poeta era Ricardo Eliécer Neftalí Reyes Basoalto. A escolha do nome "Pablo Neruda" ocorreu aos 17 anos de idade, e foi uma declaração de afinidade com o escritor checo Jan Neruda. Pablo Neruda foi considerado um dos mais importantes poetas da língua castelhana do século XX e cônsul do Chile na Espanha e no México.

Allende - Salvador Allende Gossens foi um médico e político marxista chileno. Fundador do Partido Socialista, governou seu país de 1970 a 1973, quando foi deposto por um golpe de estado liderado por seu chefe das Forças Armadas, sob as ordens de Augusto Pinochet.

Mário Jímenez - não se sabe ao certo sua idade, pois diverge de algumas anotações e também detalhes de seu relacionamento com a bela Beatriz.

CURIOSIDADE:

No livro há o relato em que Mário promoveu uma grande festa para homenagear o poeta por ter ganho o prêmio Nobel de literatura. A comemoração terminou em orgia. 🙊

🎬 O filme

O filme é rodado em outra ambientação. Nele a história se passa numa pequena ilha italiana chamada Cala di Sotto.

Sucesso no cinema, Pablo Neruda passa a viver em uma pequena ilha italiana, e há tanta correspondência endereçada ao escritor que Mário Ruoppolo, até então desempregado, é contratado como carteiro. Seu trabalho é simples: entregar as inúmeras cartas que chegam para Neruda. Aos poucos, Mário se torna um estudante do poeta e usa a arte da poesia para impressionar uma garçonete.