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[RESENHA] O Sedutor Do Sertão

Escrito entre 7 e 30 de março de 1966, "O Sedutor do Sertão ou O Grande Golpe da Mulher e da Malvada" surgiu de um convite recebido por Ariano Suassuna para levar uma história sua às telas de cinema. O filme, no entanto, acabou não se realizando por falta de verbas e o texto foi parar na gaveta de inéditos, sendo publicado agora pela primeira vez.

A narrativa, escrita durante a criação do "Romance d’A Pedra do Reino" (1958-1970), não à toa apresenta vários pontos de contato com a obra-prima do autor, a começar pelo protagonista, o anti-herói cômico Malaquias Pavão, irmão bastardo de Pedro Dinis Quaderna. A ideia para o mote do enredo é retirada de uma passagem de "Os Sertões", de Euclydes da Cunha, a quem o livro é dedicado: um golpe para enriquecer contrabandeando cachaça. À diferença do clássico euclydiano, porém, o texto de Suassuna carrega nas tintas do humor, apresentando o riso como uma forma de escape de nossas recorrentes mazelas políticas.

02/03/2020



O Sedutor do Sertão 
Um romance épico com o bom-humor sertanejo.


O livro foi inspirado em um trecho de “Os sertões”, de Euclides da Cunha. Nele, Antônio Conselheiro manda esvaziar os barris de cachaça dos mercadores em busca de consumidores do arraial de Canudos. Já o entrecho de Suassuna é ambientado na “Guerra de Princesa”, em 1930, revolta antigetulista urdida por clãs sertanejos, entre eles o de Suassuna - Discórdias políticas e econômicas, envolvendo poderosos coronéis do interior do estado e o governador eleito da Paraíba em 1927, João Pessoa Cavalcanti de Albuquerque.


Quem é que não conhece a obra do nosso saudoso Ariano Suassuna(1927- 2014)? Seis anos depois da sua morte, sua família e a editora Nova Fronteira lançaram esse romance inédito e ganhamos o privilégio de conhecer mais uma história escrita por esse mestre do sertão - O romance póstumo O Sedutor Do Sertão.

A família de Ariano junto com a editora Nova Fronteira promoveriam um evento para lançamento desta obra. Mas, devido ao avanço da pandemia que assola o mundo, o evento não aconteceu. Apesar de estarmos presenciando um tempo estranho e difícil este livro não poderia chegar em melhor momento!  Quem não está precisando do humor inteligente? 

O livro seria um roteiro de cinema de um filme que nunca foi rodado.

Escrito em março de 1966, em apenas 23 dias (rapidez que não era tão comum no processo de criação do paraibano), o livro nasceu de uma encomenda cinematográfica. Ariano foi convidado a desenvolver uma história que seria adaptada às telas de cinema e, mergulhado na escrita de sua grande obra Da Pedra Do Reino, ele criou este sagaz enredo que tem como protagonista o cavaleiro sertanejo Malaquias Pavão.

Aos leitores atentos este nome não é desconhecido: Malaquias é irmão de Quaderna, o narrador Da Pedra Do Reino. Naquele ano, 1966, o romance, que se tornaria um dos seus livros mais conhecidos, estava sendo pensando como uma trilogia, plano que o destino por motivos diversos não levou adiante, assim como o filme d’O Sedutor Do Sertão nunca fora realizado por falta de verba.

O romance O Sedutor Do Sertão dá sequência à edição das obras poéticas e narrativas que o autor paraibano Ariano Suassuna deixou na gaveta. 

O manuscrito foi parar em uma das tantas gavetas do escritor e, apesar dele sempre citar essa obra com carinho para seus familiares, não voltou a trabalhar em cima da história. O lançamento, 54 anos após a escrita original e seis anos após a morte de seu autor, faz parte do arrojado projeto da editora Nova Fronteira de reeditar toda sua obra com apoio da família Suassuna.


Malaquias Pavão, um sedutor de mão cheia que vive na Paraíba durante os anos trinta.


Parte do enredo se baseia na peça “O Desertor De Princesa” (1958). O protagonista é um fidalgo das hierarquias populares, cavaleiro sertanejo que morava no Brejo e fazia de Alagoa Grande a sede de suas atividades, quase todas aventurosas e ilegais. Raizeiro, vendedor de folhetos,de raízes, xaropes e garrafadas — coisa que fazia às claras porque eram atividades que não pagavam imposto —; e aguardenteiro, contrabandista, cambiteiro, vendedor de cachaça sem selo — o que fazia escondido, segundo dizia: “para não entrar em choque com as autoridades constituídas”, o valente Malaquias Pavão, um dos doze irmãos bastardos de Quaderna, vendedor de cachaça e admirador de Silviana, mulher do vilão Sinfrônio Perigo. Ao modo do Conselheiro, o arcebispo autocoroado rei de uma cidade chamada Princesa manda esvaziar as ânforas de cachaça de Malaquias

Mas nem tudo está perdido! 

Malaquias dá vazão a seu lirismo ao trocar com Sinfrônio o seu cavalo Rei de Ouro pela posse de Silviana. Suassuna pretendia converter a história em filme, mas desistiu. O livro pode atrair os leitores mais jovens, mesmo que soe hoje politicamente incorreto - Na caatinga dos anos 1930, era comum negociar cavalo por mulher.


O pesquisador e professor Carlos Newton Júnior e o designer Ricardo Gouveia estiveram na linha de frente dessa empreitada junto ao artista plástico e filho de Ariano, Manuel Dantas Suassuna - A narrativa é permeada de cinquenta ilustrações feitas por Manuel, assim como nas outras reedições dos outros livros de seu pai, reeditados em parceria com a editora Nova Fronteira. Desde 2015 eles vêm se dedicando ao universo armorial dos romances, peças de teatro e poemas do escritor, trabalho este que já resultou em alguns relançamentos, além do também inédito e grandioso livro Romance De Dom Pantero No Palco Dos Pecadores , de 2017 - Conheça mais desta obra aqui


A história de Malaquias Pavão, parente distante dos Dinis Quaderna, sabidório por profissão, aparentado de Pedro Malasartes. Tem o texto em torno dele, suas andanças pelas cidadezinhas do interior da Paraíba e todas as suas artimanhas, inclusive para se manter vivo no meio das complicações políticas que redundariam na Revolução de 30. Entre um golpe e outro, Malaquias e seu fiel escudeiro Miguel Biôco vão trabalhando e perseguindo o amor que acabam encontrando de forma muito pouco canônica, resultado da já mencionada improvável troca - Malaquias dá vazão a seu lirismo ao trocar com Sinfrônio o seu cavalo Rei de Ouro pela posse de Silviana. 

Em O Sedutor Do Sertão é possível reencontrar não apenas Malaquias Pavão, agora com o merecido destaque que esse anti-herói sertanejo merece. mas alguns outros elementos que permeiam os livros e espetáculos de Ariano Suassuna. Na obra há também no ar um pouco de Chicó e João Grilo, os icônicos personagens d’ O Auto Da Compadecida (1955), nos personagens de Malaquias e seu fiel companheiro e assistente Miguel Biôco nesta epopeia sertaneja. Juntos, eles viajam vendendo folhetos, elixires, retratos do Padre Cícero e cachaça sem selo, se salvando de situações perigosas envolvendo polícia e cangaceiros na base de lábia e malícia.


Universo particular em um livro atemporal


Muita gente pergunta do porquê desse novo livro ter ficado tanto tempo guardado, há quem diga que foi uma obra renegada por Ariano, mas não é nada disso! A verdade é que Ariano não tinha muita habilidade para correr atrás de editoras, ele gostava de dedicar seu tempo a escrever. Sua amiga, a também escritora Rachel de Queiroz, o aconselhou em meados de 1990, a contratar uma agente literária e foi a partir daí que realmente seus livros começaram a ser editados.

A obra não tem as características de um roteiro de cinema, mas sim de um romance em que predominam os diálogos. O narrador é importante, mas participa o mínimo possível. Os diálogos são marcantes e tornam o livro dinâmico e atual. O humor tão característico de Ariano, assim como a crítica social aguçada, é encontrado nas conversas entre Malaquias, Miguel e outros personagens principais: o amigo/rival Sinfrônio Perigo e a bela Silviana dos Braços Brancos, esposa de Sinfrônio e paixão de Malaquias. 


 “Para fazer este trabalho eu pensei muito na literatura de cordel, nas gravuras de Samico, que meu pai tinha incluído no manuscrito original, e nas pinturas rupestres. Os traços de meu pai nos desenhos de Dom Pantero também foram referências, eu queria manter o espírito”.  

Explica Manuel Dantas Suassuna.


A obra O Sedutor Do Sertão se conecta com elementos históricos e discute o radicalismo político dos anos 30, mas tão atuais nos dias de hoje.

Durante esta deliciosa narrativa, acompanhamos Malaquias em suas idas e vindas em meio à Revolta de Princesa, montado em seu cavalo Rei de Ouro e sempre acompanhado pelo seu secretário Miguel Biôco.

O romance inédito de Ariano Suassuna está disponível nas livrarias e online, em formato impresso e e-book. 

Ficção e Romance| 246 Páginas|  Editora Ediouro*

O Sedutor Do Sertão

Ariano Suassuna

Ano 2019


* Editora Ediouro, com Selo da Nova Fronteira


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