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🎬 O Carteiro e o Poeta


"Um filme poético sobre a amizade de pessoas de condições sociais bem diferentes, em mais um desempenho marcante de Philippe Noiret (o mesmo ator de "Cinema Paradiso). O enredo foi bem conduzido pelo diretor Michael Radford."


(Fonte: Adoro Cinema/Elvira A.)



16/11/2017


Resenha do Filme O Carteiro e o Poeta, com direção de Michael Radford, baseado no livro homônimo de Antonio Skármeta.

O filme narra não só a vida de Neruda no exílio, mas a relação que ele estabelece com o carteiro e como transforma a vida de um homem simples de forma afetiva, social e política.


Premiações:

- Oscar: Trilha sonora.

- Indicação ao Oscar: Filme, Diretor, Roteiro adaptado, Ator (Massimo Troisi).

- Montagem: David di Donatello

- Mostra Internacional de São Paulo: Prêmio da audiência de melhor filme.

É lógico que essas são apenas algumas das premiações. Se quiser ver todas clique aqui




Até que ponto a poesia transforma a realidade de nossas vidas e o mundo?

A poesia exerce um poder transformador nas pessoas. Ela não trata apenas sobre o amor, o belo, o sublime. Esta é uma visão reducionista. A poesia, é contextualizada num universo maior: o da Literatura, das Artes e da Vida. 

A arte, em síntese, é um instrumento de compreensão social. Ninguém mantém os mesmos conceitos do mundo e da vida após conhecer grandes obras literárias a exemplo de: Admirável Mundo Novode Huxley; o totalitarismo a partir de A Revolução dos Bichos, de George Orwell; terá a mesma visão de mundo após compartilhar as ideias contidas nos textos de Pablo Neruda. São obras que se entrelaçam em nossas vidas e ampliam a nossa visão de mundo -  Das letras para a realidade, e consequentemente, para uma nova visão da realidade depois da leitura.

Vamos falar do filme ... O filme traz uma fase da vida do poeta Pablo Neruda, vencedor do Nobel de Literatura de 1971 que, após ter que fugir do Chile diante do golpe e a ditadura imposta pelo General Pinochet, vê-se obrigado a exilar-se numa pequena ilha na Itália.

Na ilha, para atender ao poeta, o governo precisa de um carteiro, exclusivo.  Mário Ruoppolo se candidata e assume o posto que mudará sua vida completamente.

Nessa passagem pela Itália, Neruda (interpretado brilhantemente por Phillip Noiret), ao lado de sua musa Matilde, conhece o carteiro Mário Ruoppolo (Masimo Troisi).

Mário é um homem simples, filho de pescador, que não deseja dar sequência à tradição de se tornar mais um barqueiro na ilha.

Assim como no livro, o filme O Carteiro e o Poeta não se resume à vida de Neruda no exílio, mas, a relação que ele estabelece com o carteiro, e como o conhecimento transmitido é capaz de transformar a vida de um homem simples, que aspira compreender o mundo além dos limites geográficos da pequena ilha. A partir das poesias, suas relações com a sociedade se modificam e, então, muitas verdades cristalizadas começam a se estilhaçar.


Veja a resenha do livro aqui 📖


Destaques:

1 - Cena em que o carteiro, intrigado para saber quem era Neruda, compra uma obra do autor, começa a ler suas poesias e tenta entender o que se passa na cabeça do poeta.

2 - A construção da amizade estabelecida entre o carteiro e o poeta Mário -  O filme aborda a relação de Neruda e o carteiro sob duas temáticas: O amor - Por meio da relação Mário/Berenice e a política - quando mostra a vida de exploração dos pescadores locais e fala sobre o seu livro “Canto Geral”.

3 - Neruda vai com Mário à taberna onde Berenice trabalha. Essa atiitude valoriza o simples carteiro e todos no povoado passam a observá-lo de outra maneira, assim como Berenice. 

4 - Mário pergunta a Neruda o que é metáfora. Em meio aos questionamentos, Mário começa a perceber que o povo é um homem conectado com o mundo, mas o mundo das pessoas, do trabalho, os conflitos sociais, da política.

Destaquei apenas 04 (quatro) situações distintas, mas poderia citar umas 20 situações!

Abaixo, diálogo entre Pablo e Mário extraído do livro e seguido à risca no filme, referente a explicação de metáfora:


Com um sorriso de soslaio que vai se abrindo como a mão estendida para a amizade, Neruda diz a Mário que “você está me cobrindo com o musgo das metáforas”. (Ao que Mário talvez pudesse replicar: agora, Neruda, você coberto com o musgo das metáforas como uma rocha que, refém de sua paralisia, precisa suportar as investidas do mar.)

Ocorre que Mário não sabe o que são metáforas.

Pablo Neruda: “Hum, como é que eu vou te explicar?… Metáfora, metáfora… Bom… metáfora é quando se fala de uma coisa comparando-a com outra”.

Mário franze o cenho e coça o cavanhaque que lhe falta ao queixo.

Mário Ruoppolo: “Mas, don Pablo, por que a metáfora tem um nome assim tão complicado?”

Neruda tira a boina e desvela a península itálica de seus últimos cabelos cercados pelo mare nostrum da testa e do cocuruto lisos como uma bola de bilhar.

Pablo Neruda: “Mário, o homem não tem compromissos com a simplicidade ou a complexidade das coisas”.

[O homem, não, caro Pablo, mas os homens (e suas classes em litígio), sim.]

Mário Ruoppolo: “Bom, don Pablo, tudo bem, então me diga: por que você disse – Mário semicerra os olhos para recitar Neruda – que ‘o cheiro de uma barbearia me faz soluçar em voz alta’?” Em meio a seu jardim tingido pela errância roxa das amoras – a amada de Pablo, Matilde, acaba de lhe trazer uma pequena taça de vinho róseo –, Neruda suspira como que a ecoar a brisa suave da tardinha.

Pablo Neruda: “Por que o cheiro de uma barbearia me faz soluçar em voz alta? Ora, Mário… Eu não posso lhe dizer isso com palavras diferentes das que usei originalmente. Quando é explicada, a poesia torna-se banal”. [O olhar ao longe de Mário parece imaginar que, quando é explicada, a poesia se esturrica como um cacto que o carteiro nunca viu.] “Melhor que a explicação, Mário, é a experiência de sentimentos que a poesia pode revelar a uma alma suficientemente aberta para entendê-la”. [Mário já imagina o abre-te, sésamo da rosa com o beijo do orvalho.]

Mário Ruoppolo: “Então me diga, don Pablo, como é que alguém se torna poeta?”

Neruda aterrissa a mão esquerda no ombro ossudo do amigo.

Pablo Neruda: “Tente caminhar lentamente pela costa até a baía, olhando sempre à tua volta”.

Mário Ruoppolo: “Aí as metáforas virão até mim?”

Pablo Neruda: “Seguramente”.


Mário imagina o pouso da mãe-pássaro a trazer alimento e carinho para os filhotes no ninho.
Num outro dia, sentado entre Matilde e Mário na areia cor de açúcar mascavo da praia, Neruda lança um olhar de captura ao mar como se estivesse munido da rede de pesca do pai de Mário. Matilde escora o rosto no ombro de Pablo como o fiel que se ajoelha diante do altar – eis o prenúncio da poesia. Súbito, Neruda entoa uma ode ao mar – Matilde bebe cada palavra, Mário o escuta como se estivesse velejando.

Pablo Neruda: “E então, Mário, o que achou do meu poema?”

Mário Ruoppolo: “Eu me senti como se estivesse em uma barca que balança ao ritmo das palavras”.

Pablo Neruda: “Ora, ora, Mário, sabe o que você acaba de fazer?”

Mário desenha a interrogação com as sobrancelhas franzidas.

Pablo Neruda: “Você acaba de dar asas a uma metáfora!”

Mário sorri com a mesma emoção do pai que vê a filha caminhar pela primeira vez.

Mário Ruoppolo: “Ah, don Pablo, eu fico muito contente, mas, na verdade, essa minha metáfora não valeu…”

Pablo Neruda: “Ora, Mário, mas por quê?”

Mário Ruoppolo: “Porque eu não tive intenção de criá-la, ela simplesmente surgiu…”

Pablo Neruda: “Mário, a intenção não é importante, porque as imagens nascem espontaneamente”.

Mário imagina a relva verde-amarelada crescendo ao léu.


A política:

Pelo seu envolvimento social, afirma-se que a posição poética de Neruda também é política, pois, ao mesmo tempo está preocupado em relatar através de suas poesias, os problemas sociais e políticos do seu tempo.

🖃 A relação encerra-se quando Neruda tem de partir da ilha. Os corpos se separam, no entanto, o simples carteiro já não é mais o mesmo. Mário percebe o mundo com outros sentidos e conceitos. Engaja-se na oposição política, começa a compreender os abusos cometidos pelos poderes locais, a exploração dos pescadores, a manipulação das eleições, dentre outras questões. 

🖂 As Artes transformam os homens e a sociedade. Não é desligada do mundo real, ao contrário, é totalmente ligada ao mundo e à história da humanidade.



Curiosidades:

O ator e roteirista Massimo Troisi adiou uma cirurgia cardíaca para poder completar o filme. No dia seguinte ao término das filmagens, ele sofreu um ataque cardíaco e morreu. Como já ocorrera em “Cinema Paradiso”, o ator francês Philippe Noiret foi dublado por não falar italiano nem espanhol.




"E eis que, junto às encostas mediterrâneas povoadas de florezinhas amarelas que mais parecem a emanação vegetal do sol, Mário Ruoppolo e Beatrice Russo se casam, tendo Pablo Neruda como padrinho e testemunha". 
(trecho do livro/filme O carteiro e o Poeta)



O Carteiro e o Poeta
A poesia como elemento de transformação social e política.




FICHA TÉCNICA

Título OriginalIl Postino
ElencoMaria Grazia Cucinotta, Philippe Noiret, Renato Scarpa, entre outros
Duração: 1h 40min
DireçãoMichael Radford
Classificação: Não recomendado para menores de 12 anos

Assista ao trailler 📽

(Trailer legendado em português)









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