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[RESENHA] Até Que A Culpa Nos Separe

Amigas de infância, Erika e Clementine não poderiam ser mais diferentes. Erika é obsessivo-compulsiva. Ela e o marido são contadores e não têm filhos. Já a completamente desorganizada Clementine é violoncelista, casada e mãe de duas adoráveis meninas.

Certo dia, as duas famílias são inesperadamente convidadas para um churrasco de domingo na casa dos vizinhos de Erika, que são ricos e extravagantes. Durante o que deveria ser uma tarde comum, com bebidas, comidas e uma animada conversa, um acontecimento assustador vai afetar profundamente a vida de todos, forçando-os a examinar de perto suas escolhas — não daquele dia, mas da vida inteira.

Em Até que a culpa nos separe, Liane Moriarty mostra como a culpa é capaz de expor as fragilidades que existem mesmo nos relacionamentos estáveis, como as palavras podem ser mais poderosas que as ações e como dificilmente percebemos, antes que seja tarde demais, que nossa vida comum era, na realidade, extraordinária.

30/12/2019



Três casais, três crianças e um velho ranzinza têm suas vidas entrelaçadas e alteradas após um trágico acontecimento.



Os casais:


1 - Erika e Oliver são contadores - Eles decidiram não ter filhos. Erika é amiga de infância de Clementine, e madrinha das duas meninas. Eles vieram de famílias complicadas e disfuncionais. A mãe de Erika tinha um problema: era o que se chama de acumuladora. E nunca cuidou da filha. Por isso, a mãe de Clementine acabou por “adotar” a pequena Erika. Os pais de Sam eram alcoólatras e sua infância era um constante medo da solidão e do abandono.

2 - Clementine e Sam -  Ela é uma violoncelista angustiada com um teste para ingressar numa orquestra. Sam trabalha numa empresa de energéticos e coisas do gênero. Eles têm duas filhas: Holly e Ruby, de 5 e 2 anos de idade. Ela é uma mulher insegura e em geral não assume certos cuidados com as crianças e com a casa. Sam é compreensivo e, embora nada entenda de música e violoncelo, tenta criar um ambiente tranquilo naqueles dias tensos, antes do teste de Clementine para ser admitida na orquestra.

3 - Tiffany e Vid - são ricos e têm uma filha de 10 anos, Dakota. Dos três, eles são os mais tranquilos. Tiffany tinha um passado constrangedor, mas nada era problema para Vid. Ele amava a mulher e a filha incondicionalmente.


Os três casais moram na mesma rua.

“Era porque desde o churrasco tudo parecia fora dos eixos”


O senhor Harry é um velho ranzinza que morava sozinho e vive implicando com os vizinhos por qualquer motivo. Quando ele fica irritado, cuspe 😝. As crianças o chamam de senhor Cuspe. Ele é encontrado morto em casa, no dia do churrasco.

O início da trama se dá dois meses após um churrasco no quintal da luxuosa casa de Vid - Os capítulos se alternam entre o presente e o dia do churrasco e cada personagem fará o seu relato.






“Todos os seus segredos ficavam guardados lá dentro, atrás da porta da frente, que nunca podia ser totalmente aberta. O pior medo delas era que alguém batesse à porta.”


Erika e Clementine são as protagonistas, mas a inserção dos pensamentos de seus maridos e vizinhos aumenta a perspectiva total da história. Erika não possui nenhuma outra amiga e desenvolve uma relação de dependência com Clementine. Ela precisa daquela amizade para se sentir não solitária, mesmo tendo plena consciência de que sua “amiga” não gosta dela. A Clementine não consegue sentir outro sentimento que não fosse rancor, mágoa e até ódio. Ela é mesquinha, não gosta de Erika.

A trama é narrada em terceira pessoa em sete visões diferentes. O ponto de encontro da narrativa é que cada personagem carrega de forma diferente a culpa pelo acontecimento no “Dia do Churrasco“. Situações simples começam a implodir em algo maior variando de acordo com o narrador do momento. Cada uma daquelas pessoas sente-se responsável pelo morte do senhor Cuspe e pela culpa que jogaram em cima do outro. A culpa e o ressentimento se misturam.


"Talvez a gente possa, algum dia, não esquecer, é claro, mas perdoar. Talvez a gente possa perdoar a nós mesmos."


A narrativa intercala dois tempos diferentes: O presente e os flashbacks do "Dia do Churrasco". A trama vai se desenvolvendo bem devagar, criando um suspense em torno do tal incidente que abalou a vida de todos.

Além da culpa, outro tema central do livro é o casamento.

A autora construiu relacionamentos complexos e com dinâmicas diferentes para cada casal. A relação entre Erika e seu marido Oliver, por exemplo: Filhos de pais extremamente problemáticos, que lhes deram infâncias conturbadas, os dois se tornaram obsessivos por limpeza, arrumação e coisas corretas em geral.

A saúde mental, foi outro tema muito interessante abordado no livro - Como ela pode ser afetada por coisas pequenas ou por grandes eventos. Há personagens acumuladores, com TOC e com transtorno de estresse pós-traumático e a importância de procurar tratamento.

Apesar de algumas passagens lentas é uma obra que alcança as barreiras da ficção chegando a realidade por nos conduzir de volta às nossas escolhas. É um bom livro para presentear aquelas pessoas que querem sair de sua zona de conforto e ir além de suas convicções. Pois é exatamente isso que a autora propõe nesta obra.


"Queria dizer:

Sinto muito por isso ter acontecido. Sinto muito por não ter percebido que você estava passando por isso. Sinto muito por talvez não ter amado você da maneira como você merece ser amado. Sinto muito que nossa primeira crise tenha revelado tudo o que há de errado em nosso casamento, e não tudo o que há de certo. Sinto muito por termos nos virado um contra o outro, em vez de buscar o apoio um do outro."


Com os nervos à flor da pele e muito curiosa para saber o que tinha acontecido no churrasco, foi difícil não pular os capítulos a fim de descobrir o que aconteceu. Ainda bem que não fiz isso! Porque quando cheguei nos capítulos finais... confesso que esperava algo muito maior.

A autora mantém seu padrão de narrativa, quem nunca leu um livro de Liane Moriarty vai sentir uma grande diferença na forma de narrar a história, a autora é enfática nas argumentações e chega a ser impiedosa com seus personagens. Outra característica marcante na escrita de Liane são as pequenas situações que culminam em um grande pensamento existencial, movido pelo sentimento de pessoas "normais" - o fluxo continuo de situações comuns de form dinâmica  permeia todo seu esquema narrativo. Isso é bom porque para preservar o interesse do leitor no livro.

Este é o novo romance da autora de Pequenas Grandes Mentiras, que inspirou a série sucesso da HBO Big Little Lies 📺




Jovem Adulto| 464 Páginas|  Editora Intrínseca

Até Que A Culpa Nos Separe

Liane Moryarte

Ano 2017




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